Dinâmica Territorial e Ambiental

A dinâmica ambiental e territorial do Nordeste brasileiro constitui o principal eixo de pesquisa e atuação do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC). A partir das especificidades do território cearense com suas paisagens costeiras no norte e formações interioranas no arco sul do estado, os estudos desenvolvidos no Programa articulam múltiplas abordagens sobre o espaço nordestino. Essas abordagens dialogam com diferentes concepções de paisagem e território, especialmente com a ideia de “Sertão”, historicamente marcada por representações associadas à semiaridez.

Durante os períodos colonial e republicano até a primeira metade do século XX, o sertão foi frequentemente caracterizado como uma região marginalizada, associada à seca, à migração forçada e à pobreza. Suas atividades econômicas, pautadas nos ciclos agropecuários extensivos, contrastavam com o litoral de ocupação mais esparsa, voltado à pesca e à agricultura de subsistência. Poucas cidades litorâneas desempenhavam papel relevante na circulação de mercadorias, concentrando atividades portuárias voltadas à exportação e ao recebimento de produtos industrializados.

A partir do final do século XX, mudanças significativas na forma de compreender e intervir no semiárido nordestino abriram espaço para a reconfiguração das relações entre litoral e sertão. Iniciativas públicas e privadas impulsionaram um novo ciclo de modernização, marcado por investimentos em infraestrutura, turismo, agroindústria e urbanização. Programas como o PRODETUR-NE, a construção de barragens, canais de transposição, rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, bem como incentivos fiscais para atração de empresas nacionais e estrangeiras, passaram a redesenhar o território e a economia regional.

No entanto, tais transformações também provocaram intensos impactos socioambientais. A expansão das atividades econômicas gerou desmatamentos, degradação dos solos, processos de desertificação e poluição dos recursos hídricos. As alterações no uso da terra e na dinâmica rural têm contribuído para o êxodo populacional, crescimento desordenado de centros urbanos, aumento da favelização, conflitos agrários, desemprego e violência.

O desenvolvimento promovido, embora significativo em termos econômicos, ainda não foi capaz de reduzir de forma efetiva as desigualdades sociais e territoriais, tampouco de mitigar os impactos sobre os geossistemas naturais. É nesse contexto de profundas transformações e tensões territoriais que os estudos do Programa ampliam seu escopo analítico para além do Ceará e do Nordeste, estabelecendo conexões com outras realidades regionais do Brasil e do mundo, como os sertões do Cerrado, da fronteira sul-americana, da Amazônia e de regiões semiáridas da África e da América Latina.

Esse olhar comparativo fortalece a construção de uma Geografia crítica e inovadora, que, embora ancorada em realidades locais, se projeta em escalas mais amplas, com potencial de diálogo interdisciplinar e internacional. As pesquisas, dissertações, teses e relatórios técnicos produzidos pelo Programa têm contribuído para a compreensão e o monitoramento dessas transformações, justificando a consolidação da área de concentração Dinâmica Ambiental e Territorial e a atualização de suas linhas de pesquisa: Estudos Socioambientais e Estudos Socioterritoriais. Essas linhas buscam refletir a diversidade dos temas e desafios contemporâneos, reforçando o compromisso do Programa com a produção de conhecimento geográfico crítico, aplicado e socialmente relevante.