Apresentação

Há no Brasil atual uma miríade de dinâmicas, rupturas e transformações urbanas promovidas por questões econômicas, políticas e sociais. As contradições apresentadas são inerentes ao período atual e revelam as adaptações das condições gerais de produção, necessárias nesse novo contexto de reprodução da vida humana, o que desnuda a necessidade premente de se refletir coletivamente sobre a condição urbana na geografia contemporânea. Emerge assim um objetivo ambicioso para o pesquisador que possui a cidade como elemento de análise: ampliar o debate acerca das contradições do espaço urbano no Brasil contemporâneo

O período atual está marcado tanto pela presença de cidades em profundo processo de modificação e expansão territorial como pela implantação de empreendimentos de grande porte, dos mais variados ramos: petrolífero, siderúrgico, rodoviário, ferroviário, imobiliário, naval, comercial, portuário, esportivo, serviços etc. Ocorrem na escala brasileira e mundial acelerada valorização e ampliação dos lançamentos dos produtos imobiliários, que compreende variados estratos de consumo, desde os novos loteamentos e condomínios de alto padrão das áreas de expansão urbana até unidades populares oriundas de política públicas habitacionais.

A reestruturação urbana termina por engendrar a configuração de novas paisagens, territorialidades e espacialidades nas cidades. Surge como paradigma: i) a necessidade da alteração dos sistemas de transportes, com implantação de corredores viários e vias rápidas de interligação, soluções de mobilidade urbana por metrôs e veículos leves sobre trilhos, processos de descentralização e novas nucleações, novos padrões de valorização da terra urbana, dinâmicas crescentes de gentrificação e de segregação espacial. Cidades se preparando para megaeventos esportivos, seja como sede, cidade-satélite ou cidade-turística; ii) o lido com problemas socioambientais no urbano, como destinação de resíduos, a contaminação atmosférica e os transbordamentos, deslizamentos e enchentes em bairros e vias públicas, que implicam em constantes tensões e conflitos desta natureza e; iii) o trato do processo de militarização da questão urbana, que condena particularmente as áreas periféricas a programas de aguda remoção habitacional, marginalização e convívio de seus habitantes com formas aparentes de repressão e violência.

É ponto pacífico o fato de que, guardadas as devidas peculiaridades, a realidade anteriormente descrita poderia relacionar-se às mais diferentes cidades brasileiras (e mesmo mundiais). “Antigas” e “novas” lutas se articulam nos espaços urbanos, em um conjunto de reivindicações tratadas no movimento da Reforma Urbana, em prol do direito à moradia, do questionamento às mazelas ambientais, da regularização fundiária, da erradicação dos vazios urbanos, da configuração de novas regionalizações, etc. Tais mutações remetem à atual dinâmica urbana marcante das últimas décadas.

A proposta para o XIV Simpósio Nacional de Geografia Urbana – SIMPURB – 2015, a ser realizado em Fortaleza, entre os dias 08 e 12 de setembro de 2015, é pensar a questão urbana em sua complexidade, conciliando “teoria e empiria”, “reflexão e prática”, “planejamento e crítica”, vis-à-vis consideração das perspectivas e abordagens presentes na Geografia Urbana hodierna.

A metrópole de Fortaleza, após 20 anos de realização de último SIMPURB realizado na UFC, em 1995, receberá professores, pesquisadores e estudiosos envolvidos com a questão urbana, convocados para a efetivação de um duplo, porém conciliável, esforço teórico:

1 – pensar o fenômeno urbano, em sua multiplicidade concreto-imaterial, que envolve as questões políticas, econômicas, sociais, culturais e ambientais, de maneiras entrecruzadas, complementares e conflituosas;

2 – refletir sobre os avanços e práticas da Geografia Urbana, entendendo que este campo do conhecimento pode contribuir decisivamente em questões de reflexão, planejamento, pesquisa e intervenção, bem como nas práticas socialmente constituídas.

Tradicional evento bianual, o Simpósio Nacional de Geografia Urbana (SIMPURB), desde sua primeira edição (USP, São Paulo, 1989), objetiva consolidar a reflexão – científica, prática, militante, de maneira interdependente e articulada – sobre o fenômeno urbano em sua condição polissêmica. O urbano é concreto-abstrato, objeto-ação, consenso-dissenso, planejamento-luta, ciência e ação política. Neste SIMPURB 2015, ambiciona-se contribuir para que este evento permaneça enquanto ágora dos mais profundos debates sobre o fenômeno urbano, cumprindo seu papel histórico crucial de se pensar a Geografia Urbana enquanto campo de conhecimento, que recupera as demandas de diferentes grupos sociais. Em tempos de urbanização em modo contínuo, o SIMPURB busca o diálogo entre a Geografia (com todas as suas inquietações) com outros campos de análise científica (História, Economia, Sociologia, Ciência Política, Arquitetura, Planejamento e Engenharia Urbana, entre tantos outros) e na esfera social, através de movimentos e coletivos sociais, ativismos urbanos, grupos de resistência, associações de moradores, etc. Atávica à luta, à transformação, à ação militante e à criatividade, a crítica do urbano permite a conjugação entre as mais diversas perspectivas e análises dos mais diferentes sujeitos político-sociais.

A “ciência” aqui aludida obedece aos rigores teórico-metodológicos exigidos em um evento desta magnitude. Em 1999, o Brasil tinha vinte e um programas de pós-graduação na área de Geografia; em 2012 são cinquenta e um, aumentando cerca de 140% o número de programas e multiplicando indefinidamente o número de pesquisadores da temática urbana. Neste panorama, o número de participantes no SIMPURB aumentou de maneira progressiva, e, destacadamente, as temáticas também se expandiram, consolidando debates importantes como o turismo, problemática ambiental na cidade e a dimensão subjetiva do urbano.

O propósito do SIMPURB 2015 [Fortaleza] é convocar os principais pesquisadores da temática urbana brasileira a refletir, ponderar e contribuir na construção de horizontes analíticos cientificamente rigorosos e criativos. Apresenta-se, portanto, ambiente propício à consolidação de aportes teóricos, conceituais e metodológicos da Geografia Urbana do presente século. Os novos pesquisadores, oriundos da expansão da pós-graduação da última década, somar-se-ão aos mais experientes em esforço de construção de novos caminhos analítico-conceituais.

A aproximação-encontro destes estudiosos, espraiados pelo território brasileiro, significará geração de um momento de plena inserção intelectual, a envolver múltiplos olhares, estudos e realidades diversas.


Coordenação Geral

Alexandre Pereira (UFC)
Antônia Neide Santana (UVA)
Clelia Lustosa Costa (UFC)
Denise Elias (UECE)
Denise Bontempo (UECE)
Edilson Pereira Júnior (UECE)
Eustógio Dantas (UFC)
José Borzacchiello da Silva (UFC)
Renato Pequeno (UFC)

 

Maiores informações: http://simpurb2015.com.br/